terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ultradireita usa de todos os meios para pressionar ministro Celso de Mello

Dilma tem dito, reservadamente, ser favorável aos embargos infringentes no STF

Alheia ao julgamento da Ação Penal 470 do STF, para o grande público, a presidente Dilma Rousseff tem dito, reservadamente, que réus deveriam receber o amplo direito de defesa, como o de apresentar embargos infringentes, que permitiriam um segundo julgamento em alguns casos. Segundo o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo,o Planalto não acredita que decisão do STF, se ficar para 2014, trará prejuízo à campanha da reeleição. Segundo assessores, boa parte dos eleitores não faz associação entre a presidente e o processo do chamado “mensalão”.

Além de Dilma, pelo menos dois ministros já se posicionaram a favor de uma segunda chance aos réus na Justiça. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, seguiu o colega da Educação, Aloizio Mercadante, e defendeu segundo julgamento:

– Do ponto de vista político, essa hipoteca (‘mensalão’) já foi quitada várias vezes, e o governo sempre se manifestou com respeito às instituições. Vamos acatar o resultado. Não sou jurista, mas a regra democrática diz que todos têm direito a um segundo julgamento – disse o ministro à Folha.

Pressão total

Se Dilma e seus ministros não se importam com a prorrogação do julgamento por mais um ano, a pressão total que os meios conservadores de comunicação passaram a exercer, em suas edições do dia seguinte, recai sobre o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal. Ele estava preparado para proferir seu voto ainda na sessão desta quinta-feira. Só não o fez em razão de uma chicana liderada pela ala acusatória da suprema corte. Na sessão passada, o presidente da corte, Joaquim Barbosa, encerrou os trabalhos às 18h e repetiu o ato na quinta-feira, quando também antecipou o fim alegando que haveria sessão do Tribunal Superior Eleitoral.

Barbosa recebeu o apoio dos ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, que proferiram votos extensos, de modo a impedir que o decano pudesse falar. O objetivo é submetê-lo a uma pressão intensa dos meios comunicação. Até a próxima quarta-feira, quando os embargos infringentes serão julgados, há tempo para capas de Veja e Época e diversos editoriais de jornais, como O Globo. A aposta dos que querem negar aos réus um direito de defesa antes consagrado no STF é que Celso de Mello não suportará a pressão midiática.

Na saída da sessão, porém, o ministro não deu sinais de preocupação. Quando um jornalista perguntou ao decano se sua posição pode evoluir.

– Acho que não evolui. Será que evolui? – fez suspense.

Ele lembrou aos jornalistas que cuidou especificamente do tema em agosto do ano passado. Na ocasião, quando se discutia o desmembramento do processo do ‘mensalão’, ele foi favorável a esse tipo de recurso.

– Eu não posso antecipar voto algum, este não é o momento, mas já preparei meu voto, como lhes falei. Ouvi todos os lados, li os memoriais redigidos por advogados (…). Li os memoriais da eminente procuradora-geral da República e todos os votos bem fundamentados que foram pronunciados na sessão anterior e na sessão desta quinta-feira – disse, emendando que “tenho minha convicção já formada e vou expô-la na próxima quarta-feira”.

Posição inequívoca

Como ministro mais antigo da corte, ele é ouvido e respeitado pelos colegas. No dia 2 de agosto do ano passado, Mello já se manifestou de forma inequívoca sobre a admissibilidade desses embargos, que, para ele, são um “recurso ordinário” do STF.

No entanto, o ministro vem sendo pressionado por alguns colegas, como Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, que gostariam de dar o caso por encerrado, e também por veículos de comunicação, especialmente a Globo e seus colunistas, a mudar de posição. À Globo, interessava apresentar o último capítulo na novela na quinta ou sexta-feira, antes do 7 de Setembro, portanto, com a prisão dos réus em cadeia nacional de televisão. Assim, a teledramaturgia teria, sob seus critérios, um final feliz – ainda que, para isso, fosse necessário passar por cima do direito de defesa – permitindo que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, se fortalecesse como presidenciável ou dispute o governo de Minas Gerais.

Com a hipótese frustrada, ficou agora, para Celso de Mello, a tarefa de desempatar o julgamento, que tem cinco votos favoráveis aos embargos infringentes e cinco contrários. O ministro, no entanto, não deixa margem a dúvidas. Sua posição é clara, cristalina, e aponta a medida como a possibilidade de um duplo grau de jurisdição – o que, até agora, foi negado aos réus da Ação Penal 470, embora seja um direito assegurado por convenções internacionais, das quais o Brasil é signatário. Na próxima quarta-feira, portanto, não apenas os réus terão seu destino selado. Quem também estará sendo julgado, pela História, é o próprio Celso de Mello.

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