10 anos do PT no poder. Transformador social ou articulador do capitalismo brasileiro
Em 2013, o Partido dos Trabalhadores – PT completou dez anos ininterruptos no poder. A chegada do PT dez anos atrás ao poder foi saudada como a possibilidade de uma “refundação do Brasil” e o início de uma “Nova Era”. Foi traduzida como o coroamento da longa jornada de lutas do movimento operário, camponês e estudantil travada desde os anos 50, interrompida pelo golpe militar, e retomada nos anos 70.
A ascensão do PT ao governo foi cercada de enormes esperanças e expectativas na efetivação de reformas estruturais e vigorosa resposta ao Consenso de Washington traduzida nas políticas neoliberais que castigavam o país e todo o continente latino-americano.
Conseguiu o PT ser o grande transformador social ou se tornou o grande articulador do capitalismo brasileiro? A resposta a essa complexa questão foi analisada na Conjuntura “10 anos do PT no poder: Da utopia à distopia?”.
No mesmo ano em que o PT completou 10 anos de poder, expoentes de sua história política – José Dirceu e José Genoíno – foram presos. As prisões de dirigentes do PT resultantes do desfecho da Ação Penal 470, popularmente conhecida como ‘mensalão’, suscitou intenso debate nacional. Para muitos se confirmou a tese de conspiração contra o PT. Tese, segundo esses, reforçada pelo fato de que até hoje o ‘mensalão do PSDB’ – esquema de desvio de recursos públicos para a campanha de Eduardo Azeredo em 1998 – não foi julgado.
Para setores da esquerda, a ação do ‘mensalão’ caracteriza-se como “julgamento político” – e até mesmo como um “julgamento de exceção”. José Dirceu e José Genoíno se consideram presos políticos. Segundo essa análise, se colocou em marcha uma orquestração capitaneada pela grande imprensa com ativo papel de Joaquim Barbosa, presidente do STF, para desmoralizar o PT.
Fato incontestável, porém, a Ação Penal 470, o mensalão, é resultante de uma prática que se tornou corriqueira na política nacional adotada por todos os partidos – ou quase todos – que se passou a chamar de “caixa 2”. É preciso reconhecer que mesmo os partidos de esquerda, particularmente o PT, aceitaram, assimilaram e incorporaram as regras do jogo do poder. O que sucedeu com o ‘mensalão’ e suas derivações é regra corrente na estruturação, financiamento e mobilização pela disputa do poder.
Politizar o debate das prisões de José Dirceu, José Genoíno e outros como sendo vítimas de uma grande conspiração é na verdade despolitizador. Reduzir o debate ao tema da conspiração é falsear o tamanho do que aconteceu. A politização correta pela esquerda é se perguntar porque se chegou aonde se chegou.
A ideia de que o ‘mensalão’ não passa de uma conspiração da direita é simplista e encobre os erros da esquerda. É evidente e inegável o uso político do julgamento do mensalão – recurso constitutivo ao pesado jogo político, porém, o que está em jogo é recolocar em debate a radical crítica – que a esquerda sempre fez – ao modus operandi secular de apropriação do público para a consecução de interesses privados – no caso dinheiro público usado por agrupamentos políticos em troca de sustentação e apoio aos seus interesses.
Na política partidária 2013 apresentou fissuras no condomínio político de sustentação do governo. O PSB afastou-se da base governista para dar voo próprio à candidatura de Eduardo Campos que recebeu a surpreendente adesão de Marina Silva após frustrada tentativa de criação do seu partido. Ainda na política, Kátia Abreu se filiou ao PMDB para ficar mais confortável no apoio a Dilma Rousseff.
Apresentamos na sequência um breve balanço da conjuntura de 2013 organizado por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, parceiro do IHU na elaboração das Notícias do Dia e da ‘Conjuntura da Semana’ realizada em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT.
O balanço da Conjuntura 2013 vale-se do conjunto das ‘Conjuntura da Semana’ publicadas ao longo do ano no sítio do IHU.
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