sexta-feira, 27 de maio de 2016

Temer: “Minha terra tem calheiros, onde cantam os jucás”








Há 11 dias, veio à luz – descendente da melhor verve do gênero satírico e na mesma data em que teve início o Governo interino de Michel Temer – o perfil de Twitter @temerpoeta, que brinca com as aspirações líricas do presidente interino. Nesse tempo, da escolha do logotipo do Governo aos últimos capítulos da Lava Jato, foram necessários apenas 47 tuítes, uma média de pouco mais de quatro por dia, para que fossem acumulados cerca de 25 mil seguidores. "Amo ver o Michelzinho/ rolando contente na grama,/ escolhendo um logotipo/ colorindo um pentagrama", fez sucesso a ironizar a declaração do marqueteiro do Governo de que foi o filho do peemedebista, de 7 anos, que deu a palavra final sobre a marca da gestão.

Se a primeira peça escrita de Temer a circular por todo o território nacional foi a famosa carta de 2015 – em que, ainda vice-presidente, ele reclamava do relacionamento que tinha com Dilma Rousseff –; alguns anos antes, em 2012, já havia debutado no mundo das letras com seu livro de poemas Anônima Intimidade. Como na internet a zoeira nunca acaba, conforme Temer foi aparecendo cada vez mais no noticiário, sua ousadia literária virou piada.

Os versos de Embarque, “Embarquei na tua nau/ Sem rumo. Eu e tu./ Tu, porque não sabias/ Para onde querias ir/ Eu, porque já tomei muitos rumos/ Sem chegar a lugar nenhum”, foram eleitos, rapidamente, como os preferidos da internet. Para muita gente, eles explicavam perfeitamente a relação conflituosa entre ele e a presidenta afastada. O site que gera automaticamente (embaralhando as próprias rimas de Temer) poemas foi o próximo degrau da zoeira antes do funcionário público, Daniel Ramos, 25 anos, dar início ao perfil do Twitter.

Graduado em engenharia elétrica, Ramos é, ele próprio, poeta. “No tempo livre, escrevo músicas, poemas e edito, com outros dois parceiros, uma revista independente de poesia, chamada Caroço”, conta. Os poemas do presidente interino, contudo, dificilmente teriam lugar em sua publicação, já que ele classifica os arroubos líricos de Temer como “bobos” e “fraquinhos”.

A ideia de criar o perfil, conta, surgiu depois que um amigo disse que o usuário @temerpoeta ainda estava livre na rede social. Desde então, ele tem publicado diariamente versinhos originais ou paródias de poemas e músicas famosas, como Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, e Refazenda, de Gilberto Gil. Agora, dois assuntos podem ser considerados verdadeiros trending topics do perfil. O primeiro são as paródias do dia a dia. O segundo, mais insólito e bem ao gosto nonsense da internet, é a bizarra fama de satanista do presidente interino.

Sim. Isso mesmo. Você não leu errado e caso ainda não saiba, há um boato que diz que Temer é um adorador do diabo. “É uma coisa com a qual as pessoas já estavam fazendo piadas, então aproveitei para os poemas. Mas não sei dizer se faz com que tenham mais sucesso que os outros”, diz Ramos. Humildade. Quando o tinhoso é incluído na brincadeira, os compartilhamentos atingem números astronômicos. Pegue os versinhos abaixo como exemplo. Uma mísera menção a satanás e o resultado? 6.800 retuítadas.

Que Temer não fique ofendido com a brincadeira (pelo menos não com a parte dos poemas), ele não é o primeiro político a ser alvo de perfis satíricos. É verdade, alguns são mais elogiosos, como o Dilma Bolada, outros mais detratores, como o Aécio de Papelão. Mas Ramos deixa claro que não é partidário de nenhum Governo, não gosta de como o processo de impeachment aconteceu, mas não levanta a voz por alguma legenda específica. Aliás, o nome “Michael Termer Poeta”, com foi batizado o @temerpoeta, é escolhido para, justamente, deixar claro que tudo não passa de uma sátira, uma brincadeira.

E o que podemos esperar do futuro do perfil? Em primeiro lugar, alto nível de publicações, já que Ramos diz “não aceitar qualquer sugestão” para não floodar a timeline de ninguém. Em segundo, vida longa, porque, segundo ele, os chistes poéticos continuarão enquanto houver seguidores. E esse número, como já deu para perceber, não para de crescer. Abaixo você lê uma seleção temática escolhida pelo autor e pelo EL PAÍS dos melhores versinhos. Divirta-se.

Depois das bombas de Jucá, golpistas querem antecipar votação do impeachment no Senado

A revelação de que Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobrás), teve homologada sua delação premiada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pode alterar os prazos do processo de impeachment no Senado. Governistas se articulam para antecipar o trâmite e a oposição a Michel Temer tenta arrastar ainda mais a análise do afastamento de Dilma Rousseff.

Conforme apurou o Estado, Machado citou mais nomes em sua delação além dos divulgados até agora (Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros, todos do PMDB). De acordo com as fontes ouvidas pela reportagem, Temer não está implicado diretamente no depoimento de Machado, mas pilares importantes de sua base de sustentação política aparecem na delação premiada e nas conversas do ex-executivo da Transpetro.

Essa informação aumentou o grau de apreensão nos bastidores dos Poderes ontem, 25, e fez crescer o temor de um novo período de recrudescimento da crise política, o que causaria instabilidade para a gestão do presidente em exercício e poderia atrapalhar sua estratégia de recuperação da economia, neste momento dependente da aprovação de medidas no Congresso.

Do lado da presidente afastada, a estratégia é apostar em um ambiente político conturbado em busca de inviabilizar politicamente Temer.

Pressa

Ontem, 25, a comissão que analisa o processo de impeachment voltou aos trabalhos e já discutiu um cronograma. De acordo com a sugestão do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG), o processo pode se encerrar já no início de agosto nessa instância. A proposta adianta em um mês a previsão inicial do presidente do colegiado, Raimundo Lira (PMDB-PB), que era de 120 dias.

Durante a sessão, a senadora governista Simone Tebet (PMDB-MS) sugeriu ainda uma redução de 20 dias no cronograma apresentado pelo relator. A senadora defendeu que o prazo para alegações finais da defesa e da acusação pode ser encurtado de 30 para 10 dias. Este prazo, segundo ela, está previsto no Código de Processo Penal. “O Brasil não pode esperar. A insegurança jurídica e a instabilidade podem impedir novos investimentos, geração de emprego e uma recuperação da economia mais rápida. 180 dias é muito, 120 dias é muito. Em três meses temos condições de apresentar um bom trabalho”, disse Simone após a sessão.

O calendário sugerido ainda precisa ser aprovado pelos demais senadores da comissão na próxima quinta-feira, mas já causou desconforto entre os petistas. Como o PT e aliados são hoje minoria no colegiado, a tendência é de que o cronograma seja aprovado. Além de antecipar a saída de Dilma, a ideia é encerrar o impeachment antes do início da campanha para eleições municipais, marcada para 16 de agosto.

No calendário de Anastasia, a pronúncia do réu, fase em que se verifica se as acusações são procedentes, será votada no plenário do Senado em 1º de agosto. Pela Lei do Impeachment, são dadas 48 horas para notificação e, em seguida, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, tem até dez dias para marcar o julgamento final da presidente. Assim, a última votação deve ocorrer até 15/8.

O relator se dispôs a discutir a possibilidade de estender ou encurtar os prazos, mas ponderou que apenas a fase probatória pode ser modificada. Anastasia separou duas semanas para essa etapa, em que são ouvidas testemunhas, apresentados documentos e realizadas perícias. Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o período é muito curto.

Die Zeit: o Brasil tem um governo ou um bando de gângsters?

O semanário Die Zeit, que tira meio milhão de exemplares, está longe de ser sensacionalista, em seus 70 anos de vida. Ontem publicou uma análise brutal, importante para que se veja a desmoralização do nosso país no exterior.

Gângster não é uma palavra que usariam em circunstâncias normais.

O Jari da Rocha, colaborador deste Tijolaço que já morou nas bandas berlinenses traduziu e traz para a gente o texto do jornalista Thomas Fischerman, correspondente no Brasil. É de doer ver nosso país submetido a isso.

Governo ou um bando de gângsters? Por Thomas Fischermann no Die Zeit

As maiores atenções estão, agora, sobre o que Jucá disse involuntariamente sobre a corrupção. Os brasileiros já sabiam: Este governo interino tem um número excepcionalmente elevado de ministros e esqueletos no armário. Cheios de processos de corrupção e investigações que correm contra eles.

Assim como Michel Temer, ex-vice de Dilma e agora o presidente interino, que foi recentemente condenado por um tribunal por causa de irregularidades no financiamento de campanhas eleitorais. Segundo a lei brasileira, significa que pode não pode ser eleito em qualquer eleição por oito anos – ele jamais poderia, portanto, ser presidente de forma democrática. Como chefe do Parlamento do governo na Câmara, Temer atuou, particularmente, como um aventureiro: um político obscuro contra as ações anticorrupção e até uma investigação por tentativa de homicídio. Os críticos perguntam: Este é um governo ou um bando de bandidos?

A queda Dilma Rousseff deve impedir o julgamento de todos estes cavalheiros. Com deputados, senadores e membros do Supremo Tribunal envolvidos para impedir os promotores. Uma conspiração – conspiração Brasília. Mas este não é o único motivo: Caso contrário Temer e seu gabinete não teriam, com o novo governo, imposto seu ritmo e forma de governar. Metade do país colocou sobre eles a expectativa de que a economia do país deve ser salva. A administração Rousseff deixou aos frangalhos a economia: aumento da dívida, diminuindo economia, e sem um plano de melhoria à vista. No entanto, recentemente, ela foi isolada durante meses no parlamento e, por essa razão, dificilmente poderia implementar seus próprios programas de recuperação.

Rousseff volta ?

O ministro Jucá se licenciou – não se demitiu, deixou temporariamente o cargo de ministro até que a situação jurídica seja esclarecida. É notável já que o presidente interino Temer não o tenha expulsado. Um padrão está emergindo. O novo ministro da Justiça deste governo, logo que assumiu, disse: nem um direito é absoluto e país precisa funcionar. Disse isso sobre uma decisão que Temer teria que tomar (como a escolha do Procurado geral da república) Temer tentou pacificar, mas não tomou medidas adicionais.

A questão agora é como continuar em Brasília? Se as próximas gravações secretas foram publicadas, o escândalo continua. Agora, desde o início da semana, não soa mais estranho se a presidente deposta, Dilma Rousseff, e seus seguidores falam de um golpe: “Obviamente,” era e se não era, agora é. Disse ela.

As consequências disso tudo estão em aberto. Se o governo interino falhar e o golpe ficar claro, Rousseff, teoricamente, pode voltar de novo: No Senado carece de apenas dois ou três votos e os primeiros céticos já têm sem manifestado. O Senado pode recusar-se e a regra é simples. A Presidente, após 180 dias, volta automaticamente ao governo. Isto é concebível, porém… Rousseff teria os mesmos problemas de antes. Em primeiro lugar, um parlamento hostil, o que permite a ela nenhuma política consistente. Em segundo lugar, poderia haver novo pedido de impeachment para ela, por causa de um financiamento duvidoso de sua recente campanha eleitoral. Ou seja, com grande chance de, em seguida, ela ser colocada, uma segunda vez, para voar para fora do palácio.

Muitos vêem as eleições como a melhor saída para o país: a renúncia conjunta de Rousseff e Temer e um novo começo, desta vez legitimado pelo povo. Só precisa encontrar ainda candidatos convincentes para todas as partes – que também estão dispostos a assumir a liderança em tal impasse.

Temer pode ter se encontrado com Machado nos últimos meses

Aliados do presidente interino Michel Temer admitem que ele pode ter se encontrado com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro responsável pelas gravações que derrubaram Romero Jucá do governo, nos últimos meses.

Por por isso, há receio, no Palácio do Planalto, que ele também venha a ser atingido por gravações clandestinas. Assessores de Temer relatam um clima de apreensão no governo e defendem que ele afaste em até 30 dias ministros citados na operação ou que respondam a acusações judiciais, como Henrique Eduardo Alves (Turismo), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Maurício Quintella (Transportes), na tentativa de conter debandadas na base aliada.

Segundo reportagem de Valdo Cruz, nas palavras de um assessor presidencial, o que preocupa o governo interino é o "fator do imponderável" sobre novas denúncias e a possibilidade de novos áudios causarem debandadas na base aliada às vésperas de votações de medidas econômicas no Congresso.

Jornais internacionais falam em ‘complô de bandidos’ contra uma presidente honesta.

Ciro Nogueira (PP) se transforma no mais forte aliado de Temer

Quem é hoje o principal aliado político do governo interino de Michel Temer? A resposta ficou clara no fim da tarde de ontem, quando Temer confirmou o nome de Gilberto Occhi como novo presidente da Caixa Econômica Federal, no lugar de Miriam Belchior. Trata-se do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que é presidente nacional do PP e emplacou ainda os ministros da Saúde, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e da Agricultura, Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo.

Funcionário de carreira da Caixa, Occhi já havia sido ministro das Cidades e da Integração Nacional no governo da presidente afastada Dilma Rousseff, mas, nas últimas semanas, vinha recebendo disparos apócrifos na imprensa, sendo até incluído numa estranha ação judicial que tentava responsabilizá-lo pelas pedaladas fiscais. Era fogo amigo, que partia de outros aliados de Temer, no PSDB e no próprio PMDB, que ambicionavam o comando da Caixa.

Temer, no entanto, fez questão de cumprir o acordo com Ciro Nogueira, por avaliar que o PP, com seus 51 deputados, foi o "fiel da balança" na votação do impeachment. Embora o PSDB tenha hoje três ministérios, cada um deles atende a um dos caciques tucanos. Se o senador Aécio Neves (PSDB-MG) indicou Bruno Araújo para Cidades e o governador Geraldo Alckmin fez Alexandre de Moraes na Justiça, o próprio senador José Serra (PSDB-SP) assumiu o Itamaraty. No PP, diferentemente do PSDB, que é fragmentado, Ciro Nogueira tem o comando.

Asssumidamente conservador

Herdeiro de uma tradicional família política no Piauí, Ciro Nogueira teve três mandatos de deputado federal e foi eleito senador em 2010. Em 2009, ele chegou a disputar a presidência da Câmara, sendo derrotado por Temer que é hoje presidente interino. Em 2013, ele assumiu o comando do PP, no lugar de Francisco Dornelles, vice-governador do Rio, que se tornou presidente de honra da legenda.

Herdeiro do antigo PDS, o PP é um partido assumidamente conservador – o que, segundo seu presidente, encontra amparo em ampla maioria da população brasileira. Empresário, Ciro foi aliado dos governos Lula e Dilma, mas defende uma presença menor do Estado na economia e pretende lançar um candidato identificado com o PIB à presidência da República em 2018. Hoje, quem larga na frente é Blairo Maggi, que já foi governador do Mato Grosso em duas oportunidades e, como um dos homens mais ricos do Brasil, teria condições de organizar uma campanha no novo cenário em que estão vedadas doações empresariais.

Relação com Temer

Embora tenha emergido como um dos principais aliados de Temer, Ciro Nogueira foi o único a declarar que seu partido apoiaria a presidente Dilma Rousseff na votação do impeachment. No entanto, quando se deu conta de que outros aliados, como o PSD, de Gilberto Kassab, e até a ala do PMDB que havia conquistado ministérios com Dilma decidiu se bandear para o outro lado, ele também reavaliou sua posição.

Nesta quarta-feira, uma reportagem do jornal O Globo sobre a escolha de Gilberto Occhi para a Caixa aponta como Temer – que sabe que ainda é apenas interino – fez questão de honrar seu acordo com Ciro Nogueira.Confira abaixo:

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reuniu-se com o presidente interino, Michel Temer, para tratar do assunto. Defendeu até a última hora, segundo fontes, a manutenção de Alexandre Abreu para o BB e dizia ser contra o nome de Occhi para a Caixa. No entanto, Temer não aceitou as duas propostas.

Temer teria dito que Gilberto Occhi, apesar de ter sido ministro no governo Dilma Rousseff, deveria ser confirmado, para cumprir um acordo com o PP, pois o partido foi importante para a aprovação do impeachment no Congresso Nacional. No entanto, vetou o nome de Abreu justamente por ser ligado à gestão anterior. Meirelles, então, teria consultado fontes do mercado financeiro para encontrar alguém para o BB.

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