*Por Helenice Rocha
É impressionante a quantidade de pessoas que tem se
comportado nas redes sociais como aqueles "ratinhos de laboratório".
Estes pequenos animais, quando condicionados a
pressionarem uma "barrinha" de ferro para terem água liberada, passam
a correr pra ela também caso ouçam o seu som.
Nos dias que correm, certos comportamentos humanos
são idênticos a estes dos ratinhos. Senão, vejamos.
Para uma parte da população, ouvir as expressões
"sem teto, sem terra, ocupação", dispara nela uma espécie de
comportamento atávico que a faz correr e apertar sua barrinha no celular pra
escrever: preguiçosos, vagabundos, bandidos, facção criminosa, pt, etc.
Ou ainda, ao ouvir "movimento social, direitos
humanos, políticas públicas", voltam à barrinha, desta vez pra digitar:
comunista, lei rouanet, aqui não é a venezuela, etc.
Parece piada mas não é. A maioria, pra não correr o
risco de errar dizendo que é a totalidade, não sabe e não quer saber nada sobre
qualquer uma destas coisas.
Não sabe e não quer saber sobre déficit
habitacional, sobre reforma agrária e principalmente sobre o artigo 6o da
constituição, mas acha lindo o resultado destas políticas em outros países que
visita ou sonha visitar.
Não sabe que lá, onde tira suas fotos cafonas, ela
não tromba com os "sem teto e com os sem terra" porque estes são
amparados pelo governo. Sim, lá eles "ganham" teto e terra. Mas estes
cidadãos não sabem e não querem saber nada sobre isto.
A maioria também não sabe e não quer saber que
"direitos humanos" não é "um pessoal". Direitos humanos é
um conjunto de proposições declarativas, que permite, inclusive, que todos eles
apertem suas barrinhas. Sobre políticas públicas também não sabem. E não querem
saber.
Sabem apenas invejar outros povos que vivem
dignamente porque...(pasmem!) vivem em países onde há políticas públicas,
programas similares ao "minha casa minha vida", "bolsa família
" e outros tantos.
Mas os cidadãos da barrinha acham lindo comprar
seus "souvenirs" bregas em países onde não há desdentados e crianças
remelentas nos faróis. Só não sabem que as crianças de lá têm escola de
qualidade graças a tudo aquilo que ele entende aqui como "dar o peixe ao
invés de ensinar a pescar", assim como não sabem que se não há desdentados
por lá , é porque a saúde, pública e de qualidade, existe. Mas os cidadãos da
barrinha só conseguem achar que o SUS deve acabar, afinal, ele não funciona e
chic mesmo é ter um convênio caro e frequentar o "albert einstein".
Este comportamento está ficando tão sério que
quando você interpela uma criatura destas
e questiona a veracidade do que estão propagando, a barrinha dispara
novamente e lá vem: comunista, direitos humanos, minha bandeira não será
vermelha, viva o Sergio Moro...
Não fosse este um comportamento de massa perigoso,
poderíamos nos abster nas conversas. Acontece que quando estes grupos começam a
agir como verdadeiras hordas, é preciso atenção.
Quando criminalizam os miseráveis ao invés da
miséria e os mortos ao invés do matador, quando a compaixão cede lugar ao ódio,
é porque estamos no limite entre a civilização e a barbárie.
Não nos iludamos. Assim como muitos não sabem a
diferença entre direitos humanos e "defesa de bandidos", também não
sabem a diferença entre civilização e barbárie.
Levemos diariamente nos bolsos muita informação e
paciência. Será preciso muita disposição para o trabalho de restituição de um
campo de diálogo e aprendizagem onde nos salvemos, todos."
*Professora/ Psicanalista
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