terça-feira, 12 de novembro de 2013

Pará, a nova terra onde cresce a palma

Adaptado Por Ed Ferreira

A palma Elaeis guineensis popularmente batizada de dendezeiro na Bahia , está para o Pará assim como o cacau está para a Bahia. O dendê entrou no Pará por meio da Bahia,onde hoje faz parte do traços culturais daquele estado. A palmeira foi introduzida no Pará , em Moju e Tomé açú e hoje domina a produção . José Inácio, pesquisador da área foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso do Dendê na Amazônia.


Nessa área amazônica, as palmas de descendência africanas, mas introduzidas via Bahia, crescem misturadas com outra vegetação. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS
Moju e Tomé-Açu, Brasil, 12/11/2013 – Os caminhos quase não têm horizontes. O verde das plantações de palma (Dendê) se sucede monocórdio sobre quilômetros e quilômetros de terra vermelha, devastada no passado por madeireiros e pecuaristas. Sinal de alerta para uns e de esperança para outros, o dendezeiro, nome que no Brasil se dá à palmeira africana Elaeis guineensis, chegou para ficar no Estado amazônico do Pará, extremo norte do país.


A estrada que parte de Belém, a capital do Estado, não tem profundidade nem a exuberância da selva amazônica. Ao engarrafamento do trânsito da capital se sucedem mais de 150 quilômetros de estradas de asfalto e terra, definidos por uma linha de plantações de palma, apenas salpicados por pequenos povoados e cabeças de gado. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia brasileira perdeu 111.087 quilômetros quadrados de cobertura florestal entre 2004 e 2012. No mesmo período o desmatamento do Pará foi de 44.361 quilômetros quadrados.

Nessa terra pelada pela pecuária, há 27 anos se instalou a empresa Agropalma, que vende o óleo para indústrias de alimentos, higiene e cosméticos, e que possui no Pará mais de 39 mil hectares de dendezeiros. Ultimamente a seguiram outras, interessadas no biodiesel: a Belém Bioenergia (BB), empresa de risco compartilhado entre a Petrobras e a empresa privada portuguesa Galp Energia, e a Biopalma, unidade da corporação mineradora brasileira Vale.

“É um projeto economicamente sustentável, ambientalmente correto e socialmente enriquecedor”, disse à IPS o diretor agroindustrial da BB, Antônio Gonçalves Esmeraldo. Segundo o executivo, a BB escolhe suas terras com base em um mapeamento agroecológico da estatal Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), que indica áreas desmatadas e degradadas pela pecuária. O cultivo de dendezeiro emprega 10.914 pessoas nesse Estado que tem quase oito milhões de habitantes.

Uma propriedade arrendada pela BB, com 8.500 hectares, que quando se dedicava à pecuária empregava cinco pessoas, com o dendezeiro dará trabalho a cerca de 850 moradores do lugar, contou Esmeraldo. A empresa prevê cobrir 60 mil hectares até 2015, dos quais já plantou metade; seis mil correspondem a 600 agricultores familiares que lhe venderão sua produção, e o restante é de terras arrendadas de latifundiários.

Por sua vez, a Biopalma obterá óleo de 60 mil hectares próprios e da colheita de outros 20 mil, a cargo de dois mil pequenos agricultores. O objetivo é obter biodiesel para misturar em uma proporção de 20% com o diesel usado nas máquinas de mineração e locomotivas da Vale, explicou à IPS o diretor de bioenergia da companhia, César Abreu. Segundo Melquíades Santos Filho, gerente de comunicação da Biopalma, o dendezeiro equilibra terras degradadas, ao se integrar à flora nativa. A empresa assegura que nas plantações começaram a reaparecer espécies quase extintas, como o jaguar.

Em 2012, a palma ocupava no Pará 140 mil hectares, e sua produção se destinava em 67% para alimentos e cosméticos e em 33% para agrocombustíveis, segundo estudo do engenheiro agrônomo D’Alembert Jaccoud. O setor privado projeta estender essa superfície para 329 mil hectares até 2015 e ampliar em até 47% a parte destinada ao biodiesel, indicou à IPS. E o governo do Pará acredita que, até 2022, as plantações de palmeira para biodiesel ocuparão 700 mil hectares.
Primeira parte do processamento do fruto da palma, na Biopalma, no município de Moju, no Pará. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS
O Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma determina quais áreas degradadas são aptas para esse cultivo. Segundo a Embrapa, há disponíveis cerca de 10,4 milhões de hectares. Com essa expansão, o Brasil passaria a terceiro produtor mundial de óleo de palma, atrás de Indonésia e Malásia, segundo o governo paraense. Mas o temor é que o país siga o mesmo rumo desses dois produtores, que hoje abastecem 86% do mercado mundial graças a uma intensa destruição florestal e a incêndios e nuvens de fumaça que afetam inclusive o resto do sudeste asiático.

Depois da África, onde “a insegurança jurídica” dá lugar à posse de terras por empresas chinesas e europeias, “a outra grande fronteira é a Amazônia sul-americana”, e nela o Brasil tem “o maior estoque de terras”, explicou Jaccoud. O Programa Nacional de Produção de Biodiesel incentiva essa plantação. Por lei, os veículos a diesel devem empregar uma mistura de 5% de biodiesel e a intenção é chegar a 7%. Será um “mercado cativo obrigatório”, pontuou Jaccoud.

O Ministério de Desenvolvimento Agrário aposta neste combustível obtido de dendê, soja, girassol, rícino e canola, entre outras espécies vegetais. O biodiesel libera menos gases-estufa do que os combustíveis fósseis e sua produção ajuda na diversificação da matriz energética. O governo também espera reduzir a importação de diesel e, promovendo a produção de palma pela pequena agricultura, gerar renda, emprego e estímulo às economias locais.

Para Jaccoud, os programas oficiais têm boas intenções, mas ainda não existe um controle adequado. Há perigo de a propriedade da terra se concentrar mais, aumentar o consumo de pesticidas e, pela migração de trabalhadores rurais, as áreas urbanas ficarem mais precárias e violentas.

Para Guilherme Carvalho, educador do programa não governamental Fase Amazônia, a preocupação é que as empresas estejam tentando “forçar a agricultura familiar a investir nessa monocultura” e abandonar os alimentos, o que criaria “insegurança alimentar, perda de autonomia de suas terras e dependência dos preços de mercado”, afirmou.

Nos contratos que Biopalma e BB assinam com os pequenos agricultores se estabelece que só utilizem dez hectares de suas terras para o dendezeiro, e o restante fica livre para alimentos e espécies tradicionais. Mas a agricultura familiar agora representa uma parte pequena das plantações de palma.

João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru, resgata a palma como “uma tentativa de regresso à selva” em áreas tropicais, preferível à soja e ao gado. Contudo, apela à “responsabilidade social” das empresas para que não recriem “os mesmos vícios” da cana-de-açúcar, concentrada em poucas mãos e com uma cultura precária de trabalhadores rurais migrantes.

O diretor da Biopalma, Márcio Maia, desconsidera a concentração da propriedade. Na região amazônica há grandes irregularidades na titulação de terras e isso “leva ao afastamento de importantes atores que têm interesse em investir neste cultivo”, assegurou.

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