O secretário Eugênio Splenger (Meio Ambiente) aguarda a Procuradoria do Estado dar o parecer final no decreto 14.024, que regulamenta a lei ambiental da Bahia. A decisão, ansiosamente aguardada na região cacaueira, foi determinar que a cabruca é um sistema produtivo agroflorestal, e não mata atlântica, bioma que tem legislação própria, com restrições mais severas.Eugênio diz que no início de 2014 estará tudo pronto: entenda melhor sobre a cabruca.
Origem da Cabruca
Cabrocar ou brocar sempre foi uma linguagem utilizada pelos sertanejos baianos e sergipanos. Meus avós contavam que quando a caatinga fechada os homens que formavam as roças iniciava a operação cortando a vegetação mais fina com foice, geralmente espinhosa e de cipós para depois ralear a mais grossa e arbórea com machado conhecida também como derrubada, depois a queimada e coivara e por último a capina. Aprendizado que terra influencia indígena.
Quando os sertanejos chegaram a região Sul da Bahia, após o fim das capitanias hereditárias, onde as terras devolutas do Sul da Bahia, soavam no sertão castigado pela seca como a grande promessas de enriquecimento, uma redenção. Centenas de famílias se arriscaram numa aventura de chegar a esta região para aqui conquistar “as terras prometidas”.
O sertanejo se deparou com uma mata gigantesca e misteriosa, com água em abundancia e bem diferente da caatinga. Mas trouxeram nos alforjes das tropas a velha sabedoria e experiências dos sertanejos.
Na época a tecnologia era o braço forte e destemido do homem calejado pelas agruras do sertão. A febre do cacau já tomava conta dos recantos do Sul da Bahia. A orientação da época era que esta planta só se dava bem sob a sombra de grandes árvores.
Os catingueiros já acostumados com as dificuldades naturais do sertão, da seca e espinhos da caatinga não tiveram dificuldade de aplicar a cabroca que por uma questão de linguajar se tornou “cabrucar”. Tiravam primeiro a vegetação mais fina, depois raleava as árvores maiores na época chegava a ficar até 1200 árvores por Ha. Hoje varia entre 25 até 230 arvores/Ha.
As “roças de cacau plantadas sob as grandes arvorem da mata passou a ser denominada de cabruca”, como ficou vulgarmente conhecida na região cacaueira da Bahia, caracteriza-se por ter sido implantada através de um processo de descaracterização da floresta original. A cabruca consiste na retirada de todos os indivíduos nativos de porte herbáceo, arbustivo e de parte das grandes árvores, conservando-se apenas entre 25 a 50 indivíduos adultos por hectare, distribuídos de modo a sombrear uniformemente 600 a 1.000 pés de cacau plantados no espaçamento de 3m x 3m. Mas nem sempre foi assim, inicialmente chegavam a deixar entre 750 a 1200 árvores por hectare, mas o cacau era plantado de forma empírica numa média de 600 a 700 plantas por hectare.
Com o desenvolvimento da cultura, que inicia produção econômica com quatro anos de idade, obtêm-se uma área plantada com cacaueiros que atingem, em média, cinco metros de altura, sombreada por indivíduos remanescentes da mata, com altura média de vinte metros. Inexiste estrato arbóreo ou arbustivo devido às roçagens frequentes ou à ausência de ervas daninhas, em virtude da pouca luminosidade que penetra nas roças, e do “mulching” (cobertura morta) formado pelas folhas caídas dos cacaueiros, conhecido como “roças bate folha”.
Não se verifica portanto, perpetuação das espécies remanescentes da mata porque não é permitido o estabelecimento da regeneração. Por isso, as árvores de sombra nativas são indivíduos que, com a senilidade, perecem e são substituídos, através de plantio, por essências exóticas de crescimento rápido, que visam repor o sombreamento, ou por essências frutíferas que, além de fornecer sombra, podem produzir outros frutos de valor econômico. O cultivo do cacaueiro conserva o solo protegendo-o da erosão, ajuda a manter os recursos hídricos, mas “a área ocupada com cacau não é Mata Atlântica. Trata-se de área conquistada pela agricultura.”
Área agricultável
Entende-se que as roças de cacau sombreadas por indivíduos nativos da Mata Atlântica devam ser consideradas áreas ocupadas com cultura do cacau, principalmente por não se enquadrarem nas proibições previstas no Decreto nº 750 de 10/02/1993, vez que não se tratam de vegetação primária nem estádios de regeneração da Mata Atlântica.
Apesar de não apresentarem as características descritas para Mata Atlântica, conforme Decreto Federal nº 750 de 10/02/93 e Resoluções CONAMA nº 10/1993 e 05/1994, as roças de cacau estão sujeitas aos critérios da Resolução nº 1.157/96 do CEPRAM - Conselho Estadual de Proteção Ambiental - e ao Artigo 3º da Resolução CONAMA nº 248 de 07 de janeiro de 1999.
Qualquer observação favor enviar por meio do e-mail : fotos.edferreeira@gmail.com
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