Capital chinês quer abrir caminho para o minério de ferro na Mata Atlântica. Imagens: Thiago Dias/Blog do Gusmão. |
A Sul Americana de Metais S/A (SAM) quer construir um mineroduto de 482 Km entre Grão Mogol, município ao norte de Minas Gerais, e Ilhéus. A empresa pertence à Honbridge Holdings, de Hong Kong. A ideia é transportar o minério de ferro do seu Projeto Vale do Rio Pardo até o Porto Sul, que ainda não saiu do papel. Como o porto vai ocupar a Área de Proteção Ambiental da Lagoa Encantada, o mineroduto precisará cortar dezoito quilômetros da unidade de conservação. O Conselho Gestor da APA se reuniu hoje (29) na UESC com representantes da SAM para tentar esclarecer os impactos socioambientais previstos no projeto.
Geraldo Magela. |
Segundo Geraldo Magela, diretor de relações institucionais da SAM (que já trabalhou para o Estado da Bahia), um convite do governo estadual convenceu a empresa a conectar o mineroduto ao Porto Sul. A alternativa seria o Porto de Vitória (ES).
Se for autorizada, a implantação do mineroduto vai empregar cerca de 9 mil homens ao longo dos 21 municípios no seu caminho. De acordo com Magela, esse número vai cair para 2 mil na fase de operação. A exploração da mina vai durar 29 anos. A SAM calcula investimento total de 3,8 bilhões de dólares e espera iniciar o transporte do minério de ferro até o início de 2019.
Pressa
Os conselheiros concluíram que o encontro não produziu resultados satisfatórios e querem outra reunião. Houve pouco tempo para esclarecer dúvidas. Os representantes da SAM saíram antes do fim para não perder um voo.
Desaguamento
Conforme o conselho, os empreendedores devem explicar os impactos socioambientais de forma mais detalhada. Entre outras questões, restaram dúvidas sobre o destino da água usada no chamado desaguamento, processo que separa o minério da água na saída do mineroduto.
Magela disse que a água será tratada e reaproveitada. Segundo ele, também há a possibilidade de construir um emissário marinho para despejá-la em alto mar. A segunda hipótese soou improvável para os conselheiros e demais participantes.
Licenciamento
Ivan Amorim, técnico do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia, explicou que o IBAMA é responsável pelo licenciamento. O mineroduto, no entanto, precisa da anuência do INEMA para ocupar a Área de Preservação Ambiental da Lagoa Encantada. Se o órgão não autorizar, a empresa não poderá receber a licença prévia.
Magno Oliveira.
O Brasil na divisão internacional do trabalho
O filósofo Magno Oliveira, do Movimento Nacional pela Soberania Popular frente à Mineração, criticou a superficialidade das explicações dos representantes da SAM. Contudo, esclareceu que o movimento não é contra a mineração em si, mas seu modelo iniciado no período colonial. O problema é que a busca de lucros maiores inibe os investimentos nos programas de redução dos impactos e de distribuição das riquezas.
O ativista visitou comunidades sul-africanas e destacou quatro pontos críticos entre os impactos mais comuns da indústria mineradora: deslocamento populacional, perda da relação tradicional e da memória afetiva das comunidades com os territórios, devastação de bens naturais (assoreamento de nascentes e rios, desmatamento) e crise da representatividade dos agentes políticos que deveriam defender os interesses dos cidadãos, mas privilegiam as corporações.
Segundo Magno, esse tipo de empreendimento reproduz o papel secular do Brasil na divisão internacional do trabalho: exportador de matéria-prima. “As riquezas não ficam aqui”. São altos os índices de desigualdade social nos países marcados pela exploração do minério. “Esse modelo só serve para concentrar renda. O progresso existe, mas só para o dono do capital”.
Fonte:Blog do Gusmão/Reportagem: Thiago Dias
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