“O OUTRO LADO DO ESPELHO”
Inconformados com os altos índices de popularidade da presidente
Dilma Rousseff, que nas atuais pesquisas lhe garantem a reeleição já no
primeiro turno, setores da sociedade que se sentiram prejudicados com a queda
de juros e tarifas, especuladores e rentistas, e todos os donos da grande
mídia, aquela gente que não se conforma com medidas que visam a beneficiar a
população de baixa renda, resolveram investir em outros campos, já que o
cenário eleitoral não lhes dá muitas esperanças de voltarem ao poder tão cedo.
Alguma coisa está fora de ordem e de lugar quando assistimos à
'judicialização' da política e à politização do judiciário, e os grandes
protagonistas da cena brasileira se tornam o presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa, e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
que agora têm uma opinião formada sobre tudo e dão seus pitacos definitivos
sobre qualquer assunto, mesmo quando não são chamados.
Eles se consideram os últimos catões da República, os únicos e
os últimos honestos num país em que ninguém mais presta, só eles. Estão sempre
de cara amarrada, não se permitem um sorriso. São as próprias expressões do fim
do mundo.
Gurgel já decidiu que a
nova distribuição dos royalties do petróleo só deverá valer a partir de
2016; Barbosa comenta a indicação do polêmico deputado pastor Marco
Feliciano para uma comissão da Câmara, como se tivesse alguma coisa a
ver com isso, e ambos se dedicam com afinco para colocar logo na
cadeia os condenados da Ação Penal 470, recusando sumariamente qualquer recurso
dos advogados de defesa.
Citado pelo ex-ministro José Dirceu numa história no mínimo
muito mal contada, no episódio da sua indicação para o STF, o ministro Luiz Fux
manda um assessor responder que não vai polemizar com réus condenados. Na
mesma semana, o procurador-geral Gurgel determina ao Ministério Público e à
Polícia Federal investigações sobre o ex-presidente Lula, a partir de
declarações feitas por Marcos Valério, após o réu ser condenado a mais de
40 anos de prisão. Princípios e valores variam conforme os interesses de
ocasião. E tudo parece muito natural para a nossa imprensa.
No mesmo momento em que Barbosa denuncia o "conluio"
entre advogados e magistrados, o escritório de Sergio Bermudes, um dos mais
caros do país, anuncia o patrocínio de uma festa de arromba para mais de 300
pessoas em seu apartamento de 800 metros quadrados, no Rio de Janeiro, para
comemorar o aniversário de 60 anos do mesmo ministro Luiz Fux, cuja filha
Marianna, candidata a uma vaga no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,
trabalha com o anfitrião. A pedido da mãe do homenageado, diante da repercussão
negativa do badalado regabofe, a festa foi cancelada, segundo os jornais
deste sábado. Menos mal.
Mas não faltarão,
certamente, outras festas do gênero, por mais que isso irrite ou agrade
Barbosa, recentemente homenageado no Copacabana Palace pelos mesmos donos da
mídia que publicam artigos de Marianna Fux e louvam seu pai, para congregar os
comensais dos dois lados do balcão da Casa Grande, que podem perder as eleições
e a vergonha, mas nunca perdem a pose nem o poder. Manda quem pode,
obedece quem tem juízo. Este é o mundo deles, com ou sem perucas, e o
resto que se dane, como costumam dizer, desde os tempos dos bailes da Ilha
Fiscal.
No Brasil é anunciado todos os dias um fim do mundo, está
onipresente no noticiário nacional, como se houvessem estabelecido
uma programação prévia para não deixar o brasileiro respirar sossegado
dois dias seguidos.
Mal se termina de falar
de uma crise e já aparece outra nas manchetes, sem que tenha dado tempo da
anterior terminar.
As notícias alarmistas
sobre os iminentes riscos de apagão de energia em razão da falta de chuvas nos
reservatórios, ao mesmo tempo em que as enchentes em outros pontos do país
provocavam novas tragédias, os ambientalistas prevendo impactos gigantescos.
Imagens de reservatórios com pouca água e morros despencando
eram acompanhadas de análises dos "especialistas" de sempre para
quem o país, com este governo, não tem nenhum futuro, seja por falta ou
excesso de chuvas.
Não tivemos tempo de
comemorar o recorde da safra de grãos, e já começaram as séries de reportagens
sobre o colapso na infraestrutura, falta de ferrovias, com estradas
intransitáveis e congestionamentos nos portos.
E assim inicia-se o ano
de 2013 de agonia em agonia, até que surgiu a grande crise do preço do tomate, a
maior de todas, porque esta pode explodir ao mesmo tempo a inflação e os juros,
levando o País à ruína completa. Em apenas três meses, ficamos novamente à
beira do abismo.
Quem não sabe que todos
estes problemas existem? É claro, e
alguns são bastante sérios, porem o clima de catastrofismo, porém, vai além da
realidade dos fatos e tem como pano de fundo a sucessão presidencial de 2014,
ativada pela antecipação da campanha e pela ausência de candidatos competitivos
para enfrentar a candidata do governo.
*Texto original da coluna do Ricardo Kostcho e adaptado pelo fotossíntese.blog.br
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